quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Crença Religiosa e Ignorância (A questão da Mulher)



A maioria esmagadora das religiões sempre atuou como forças reacionárias que buscaram impedir a libertação da mulher, os avanços da razão e da ciência, a extensão da participação política e a defesa dos direitos das minorias. Hoje, nos concentraremos aqui na relação entre a libertação da mulher e as religiões. .

Os livros sagrados da maioria das religiões sempre relegaram a participação da mulher na vida política, social, sexual e econômica das sociedades a um segundo plano. Eles legitimam o papel dos homens à frente da condução dos negócios das sociedades através da ligação dos mesmos com os deuses, heróis ou patriarcas míticos.

Na Grécia Antiga, o papel da mulher dita de “bem” na pólis era bem claro: ela devia ater-se ao espaço doméstico, cuidar dos filhos e abster-se da participação política. Na Ilíada e na Odisséia de Homero, assim como na Teogonia de Hesíodo, os livros “sagrados” dos gregos, a mulher sempre aparece com um papel menor na organização do Cosmos e da comunidade. Era proibido que ela tivesse amantes. Aos homens, obviamente, não. “A esposa bem nascida não deve gostar de sexo”, já aconselhava Aristóteles. O marido deveria buscar o bom sexo fora do casamento, com as hetáiras, as prostitutas, quase sempre estrangeiras. Nem ao menos administrar a herança paterna ela podia, pois isso era tarefa de um epikleros, ou seja, um parente masculino nomeado para tal. Isso tudo com o aval dos deuses, obviamente.

Nas religiões tribais africanas a mulher também é quase sempre associada com coisas ruins na mitologia. Em algumas tribos, elas têm o seu clitóris arrancado aos sete anos em um ritual religioso. Em outras, as filhas são meras moedas de troca dos pais, que as negociam como se fossem frutas ou animais de caça. Em outras ainda, são associadas com a lua, a escuridão, a traição e as piores bruxarias.

No Oriente Antigo, o papel da mulher também era secundário ou negativo. No Egito Antigo, o Faraó era a divindade encarnada, sempre um deus masculino. Na Índia, deus tinha encarnado como um jovem e belo guerreiro (Krishna) e a deusa da destruição era uma figura feminina. Entre os hebreus antigos, o papel da mulher talvez fosse o mais insignificante entre todas as sociedades. Era vedado a uma esposa falar na rua com quem quer que fosse, a menos que o marido autorizasse. Na rua, ela tinha que andar 5 metros atrás do marido. Se ela casasse e na primeira relação sexual não sangrasse para provar a virgindade, era apedrejada até a morte. Imaginem quantas mulheres com hímen complacente o foram. Também o adultério feminino era punido com o apedrejamento, mas nunca o masculino . Ela não podia participar da vida política e da vida religiosa, cujo controle ficavam a cargo dos homens (fariseus, escribas, levitas, saduceus).
Tudo isso tinha o aval bíblico, para quem a mulher era como se fosse um ser inferior. Afinal, ela saiu de uma mera costela de Adão e foi seduzida pela servente a tentar Adão. Sua origem divina era indireta (que Deus machista, hein). Nas guerras, eram freqüentemente estupradas ou transformadas em escravas sexuais (concubinas). Vítima desses estupros freqüentes, a mulher no Novo Testamento era quase que um mero depositário dos espermas masculinos. Até mesmo Paulo, no Novo Testamento, afirmou que a Mulher deveria ficar em silêncio e obedecer ao Homem. Por isso mesmo, todas as religiões bíblicas sempre tiveram uma visão opressora da mulher. Judeus, Cristãos e Muçulmanos as oprimiram muito ao logo da história. E ainda hoje as oprimem, vide parte o mundo islâmico atual. Na Idade Média Ocidental, para a cristandade a mulher era vista como um ser libidinoso em potencial, um instrumento do diabo. Por isso, a mulher (a maioria esmagadora de camponesas pobres, obviamente) era obrigada a se vestir de forma pudica, a fazer sexo somente para procriação e a não participar ativamente da vida política e social. Não é preciso nem dizer que as mulheres (novamente as pobres) foram as maiores vítimas das fogueiras da Inquisição Católica.

No século XX, quando os movimentos feministas começaram a pleitear o direito da mulher ao trabalho, ao prazer sexual e a participação política, as igrejas católicas e protestantes sempre se colocaram contrárias, contratando inclusive alcoviteiras religiosas para se oporem a isso nas TVs americanas, quando afirmavam, alegando a Bíblia, que o lugar da mulher honesta era dentro de casa cuidando dos filhos e “servindo” ao marido e não no trabalho, na faculdade ou tendo prazer sexual, uma coisa considerada exclusivamente masculina.

A grande maioria das mulheres religiosas cristãs de hoje não sabem disso, mas desde o século XVIII sempre foram os intelectuais anti-clericais ou ateus que as defenderam, como Voltaire e Marx, para citar só alguns. Foram a partir das idéias Iluministas e Marxistas que o mundo da igualdade política, econômica, social e sexual entre Homem e Mulher pôde ser pensado mais incisivamente no Ocidente. E para isso, desde o Antigo Regime, as religiões tiveram que ser confrontadas, desafiadas e até ridicularizadas. Foi um processo difícil, cheio de obstáculos e retrocessos, mas, enfim, vitorioso. Se hoje você, minha cara leitora, vota, trabalha, estuda e tem direito ao prazer sexual, isso se deveu a quem sempre se opôs às religiões e não a quem as professavam.

Na próxima coluna veremos como as religiões, em nome de suas supertições e dogmas, sempre tentaram frear o avanço da razão e da ciência, objetivando deixar o mundo no mais absoluto obscurantismo.

Postado por: Prof. Chicão

Nenhum comentário:

Postar um comentário