terça-feira, 9 de junho de 2009

Complexo de vira lata! Porque?


Questões como, o papel marginal de Portugal na construção de uma identidade moderna ocidental, dentro da historiografia, a depreciação dentro do imaginário europeu de todo o povo ibérico, a reflexiva aceitação desta desvalorização até a contemporaneidade, implícita, no imaginário do povo da maior ex-colônia ibérica das Américas, o Brasil. Trás como inevitável conseqüência a discussão da “Via Ibérica”.
Devemos primeiro nos perguntar sobre qual prisma, sobre quais valores atravessamos este assunto para analisar essas questões. Perguntas como, desvalorização sobre qual modelo? Qual é a verdadeira identidade ocidental? Em comparação a que povo, o português e o espanhol são depreciados? E porque isso se reflete no imaginário brasileiro?
Creio que para começar a esmiuçar essas perguntas devemos primeiro começar a entender a principal matriz nos dias atuais do pensamento ocidental, a matriz que influencia verticalmente toda a visão de mundo, e nos impõe um conceito de evolução sobre suas bases. Para isso é necessário longe do imperativo atual, conhecer algumas forças motrizes na história ocidental que juntas moldam um grande sentimento ou um “pseudo-projeto” de mundo que se torna a raiz mais profunda desta matriz. Como citado por Candido: Zea e Hartz defendem a existência de um “projeto” ocidental que vem seguindo seu curso há séculos, passando por uma cadeia de formulações logicamente intervinculadas de variada ênfase filosófica e cientifica. Para qualquer momento e lugar é possível demonstrar que partes interessadas invocaram elementos desse ‘projeto” de maneira pragmática para justificar de fato ordenamentos de poder autoridades e status.
Elementos como a filosofia natural, a moral greco-romana, a doutrina cristã, a ciência e a tecnologia de origem mediterrânea e o elemento de pura observação que foi se tornando cada vez mais sistemático. Ao longo dos séculos opções e produções desses elementos culminaram em uma cultura de dominação pragmática anglo-americana.
E é justamente esse modelo de cultura anglo-americana imperante na contemporaneidade que transforma, diminui e influencia toda a história que culturalmente e economicamente tomou caminhos diferentes. Impondo um falso conceito evolucionário no imaginário popular. E conseqüentemente criando valores baseados em torno do “poder”, seja ele econômico, político ou militar.
Se analisarmos hoje os principais países ocidentais, veremos que todos têm um norte comum, principalmente em relação à economia, que é a mola mestra para o desdobramento do “poder” ou para a sobrevivência no jogo político mundial. Toda analise superficial das nações atravessa essa ótica rasa e pobre sobre o posicionamento dentro do eixo econômico mundial, subtraindo automaticamente todas as importantes questões de imensa relevância como a geografia, a psicologia-social e principalmente a história. Essas questões juntas formam em minha opinião o tripé de qualquer avaliação correta e justa sobre qualquer contexto social. Sendo assim, creio, que como cientistas sociais estudiosos destas áreas, podemos não aceitar uma historiografia “oficial”, já que sabemos o que isso significa, ou o posicionamento do imaginário popular que geralmente se faz reflexo desta mesma historiografia, mas devemos concordar que questões desta significação só serão bem avaliadas, ainda por um longo tempo dentro dos meios acadêmicos.
Entender que parte do “jogo” mundial de dominação é a produção de certos discursos de poder, e o direcionamento educacional da base social de qualquer país para as “oficialidades”. Como exemplo, posso citar que tenho aula com uma professora Francesa de trinta e três anos que, acha que a intenção do imperialismo Frances na áfrica foi levar civilidade e democracia, (pensamento básico gerado pela educação francesa até os dias de hoje). Salientando que diz respeito a uma pessoa culta formada em publicidade e com uma enorme bagagem de viagens e experiências.
Como podemos sublimar a importância de Portugal para a expansão e desenvolvimento da realidade do ocidente? Sem obvio, julgar o que se tornou esse modelo de civilidade ocidental, isto é outra questão. Mas a importância no processo é inconteste como cita Carvalho: Os portugueses não foram tão pioneiros quanto os genoveses em termos de navegação, não experimentaram o renascimento ou criaram grandes sistemas filosóficos. De forma mais contundente, seus críticos enxergam desorganização em seu reino e ausência de brilho em suas monarquias; ou, ao contrario, como pretendia Adam Smith, é possível dizer que os portugueses realizaram “os dois maiores e mais importantes acontecimentos de que se tem registro na história da humanidade” No mínimo, os portugueses ampliaram a cartografia do mundo e disseminaram a ocidental idade.
A auto-estima e o imaginário popular brasileiro só ira mudar quando passarmos a consumir menos outras culturas, aceitar menos os discursos e os modelos de dominação e valorizarmos as nossas raízes, enxergando que pela nossa geografia, cultura e história somos partes importantíssimas dentro de uma rica nação, de valores, jeitos e humanidades diferentes, apenas diferentes, porém, belas e relevantes. Não somos o que possuímos, mas o que pensamos.