sexta-feira, 28 de maio de 2010

A Criação de uma Sociedade Capitalista no Brasil - 2ª Parte

Importante aqui nos determos resumidamente para explicar a “solução” de substituição, que a elite e o estado encontraram em relação ao trabalho servil. Relevante também destacar que esta tentativa de “solução” se deu entre meados e final do século XIX, no tempo em que existia forte influencia da “pseudociência”, eugenia. Pseudociência esta, que defendia a superioridade da “raça” branca em relação a negra, seguindo padrões do darwinismo e de conceitos “civilizatórios”, assim pregando o aperfeiçoamento genético, “higienizando” de forma a embranquecer um estado para torná-lo superior.

E foi sem sombra de duvida este pré-conceito que a elite brasileira aplicou para resolver de forma gradual seu maior desafio.

Então esta solução se deu por etapas. Primeiro foi incentivado décadas antes da abolição a criação de colônias de imigrantes europeus de forma espontânea, o que não deu certo devido a vários fatores. Entre os principais, o clima, o imaginário europeu, e a concorrência neste sentido do EUA, que seduzia muito mais o imigrante.

Vendo que não surtia efeito o governo resolveu subsidiar a criação de colônias de imigrantes para gerar mão de obra barata principalmente para as fazendas de café na região de São Paulo. Conseguindo desta vez, atrair imigrantes, mas fracassando ao longo do tempo por falta de uma política especifica para o assunto, questões culturais, de adaptação, e a mais importante, a mentalidade escravocrata dos fazendeiros produtores impediram o resultado esperado.

Sobre tudo é que mesmo fracassando na substituição em termos ideais para o estado, fatores externos de mercado e uma maior oferta de mão de obra dentro do setor, contando com os deslocamentos internos de escravos um pouco antes da abolição e a imigração para as principais áreas produtoras, o setor latifundiário pode manter-se como desejava, forte e em expansão.
À medida que a expansão do setor agrícola exportador se fazia continuo. É importante lembrar que paralelo a todo este processo, e por causa de todo este processo, a sociedade se tornava mais complexa, a medida que novos agentes sociais e a própria expansão urbana era inevitável frente a crescente do mercado externo.

Esta complexidade passava também pelo incremento da infra-estrutura e o fortalecimento do mercado interno, grande propulsor e incentivador de agentes sociais diferentes, e economicamente indiretos. E no final do século XIX das primeiras indústrias do tipo de substituição de importação.

Mas uma vez é de grande valor lembrar que o objetivo é entender a criação de uma sociedade capitalista no Brasil. E como escrevi antes, é obsoleto considerar isso pronto somente porque alguns agentes e fatores já se fazem presente no processo, é necessário algo mais.

Então fechando a subestrutura referente a autonomia de poder do grande latifundiário, e chegando ao ponto de uma nova realidade social, cito mais uma vez Celso Furtado, em seu livro, Formação Econômica do Brasil:

Os interesses diretamente ligados à depreciação externa da moeda – grupos exportadores – terão a partir dessa época que enfrentar a resistência organizada de outros grupos. Entre eles se destacam a classe média urbana – empregados do governo, civis e militares, e do comércio – os assalariados urbanos e rurais, os produtores agrícolas ligados ao mercado interno, as empresas estrangeiras que exploram serviços públicos, das quais nem todas tem garantia de juros. Os nascentes grupos industriais, mas interessados em aumentar a capacidade produtiva (portanto nos preços dos equipamentos importados), que em proteção adicional, também se sentem prejudicados com a depreciação cambial. (Furtado,1920, p.252)

Principal mecanismo de defesa de mercado empregado pela política econômica do estado em prol do grande latifundiário.

Supracitado, o Brasil entrou em um período de tensões que se prolongou durante as primeiras décadas do século XX. Até culminar no Estado Novo.

Assim sendo no período das primeiras tensões a mentalidade do grande coletivo, tencionava por interesses convenientes e não por uma adequação de realidade capitalista.

Esse choque de realidade somente se deu com a Era Vargas, aonde de fato a oligarquia rural perdeu seu poder e inúmeras alterações nos grupos sociais e institucionais aconteceram.

A mentalidade elitista rural estava finalmente enterrada, o longo processo que imobilizou o Brasil durante a maior parte do seu tempo com um conceito escravista tinha finalmente terminado.

O Brasil deixava de ser rural e tentava entrar no jogo mundial, de forma tardia e pela porta dos fundos, mas de fato inseria a República Brasileira na fase do Capitalismo Industrial, fase essa defasada em relação ao EUA e a Europa, que já se encontravam em processo de germinação do Capitalismo Informacional.



Conclusão

O Brasil não conseguiria desenvolver um sistema econômico de viés capitalista ancorado em uma mentalidade escravista para exportação. Problemas como, pouco dinheiro circulando, pouco trabalho remunerado, a falta de um mercado interno considerável e uma política cambial voltada para os interesses de uma elite exportadora e não para um mercado são as principais conseqüências da opção escravista que culminaram no retardamento do Brasil no contexto capitalista.

O que demonstra que a constante defesa de uma opção econômica para uma minoria elitista se transformou em condicionamento estrutural de uma mentalidade coletiva. E uma armadilha para a própria elite cafeeira presa em seus conceitos ultrapassados.

Um comentário:

  1. Amigo... So pra vc saber que estou sempre por aqui! Otimos textos, parabéns! Bj... Fafá Lucas

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